Não é um lugar muito difícil de ser encontrado, mas também não é freqüentado pelas classes mais nobres da cidade. Estou falando da Rua dos Alagados. Sim, Rua dos Alagados. Paralela com a Avenida da Angustia, encruzilhada com a Rua da Esperança, perto da esquina Acredite se Quiser.
Fato é que nessa Rua por mais singela que seja, tem suas peculiaridades. Sim, pois, há de se ver que resquícios de antigos costumes já esquecido com o passar do tempo, ainda insiste em permanecer em certos lugares;lá ainda pode-se ver coisas que só imaginamos em filmes de época ou em longínquos devaneios. Pois a primeira coisa que se olha ao adentrar no lugar é um grupo de velhos ( pois é, não só de gente com cálcio, músculos , peles alvas , vive-se no mundo , ainda existe espaço para gente velha, acredite) cansados sim, mas não mortos, isso não mesmo! O que se nota ao ver esse grupo de anciãos, é nada menos de algo que se torna de praxe com o passar do tempo: jogatina.Todo dia estavam lá , com suas apostas , blefes, velhas cantigas, algumas tosses, lógico, mas sempre prontos para mais uma rodada. Bem ,sobre os jogos, sempre variavam: cartas, dados, dominós, pôquer, damas, ( mas geralmente jogavam mais cartas) e outros jogos que nunca se ouviram falar, pois devido a massificação se jogos virtuais e derivados tomaram conta da prática de jogos mais humanos .
Mas não só de velhos fazia-se aquele lugar. Como em qualquer canto desse mundo e logo pequeno por assim dizer, tem seus personagens que não são indispensáveis nem grades figuras capaz de gerar uma suma diferença na terra, mas tem suas características que devem ser analisadas com atenção.
Tomamos por exemplo aquele casal que mora no conjugado perto da Padaria de Seu Cosme. Imigrado de uma cidade tão longe dessa rua que não ouso dizer o nome, mas garanto que deve estar do mesmo jeito que deixou quando partira de sua casa, com uma pequena mala em mãos e alguma esperança de um lugar mais frutífero, próspero e mais justo ( bem ao menos próspero ele já esta isso já é fato). Não deviam ter mais que vinte e poucos anos, acabaram de se noivar, ele com seu estágio, ela promissória advogada, e quem sabe, uma futura juíza. Como coisa da idade ou mesmo arrematação da juventude, não tinham pudores ao demonstrarem para quem quisesse ver, o quão estavam enamorados com beijos, demorados elogios palavras infantis, enfim, coisa de amor. Sem falar das noites tórridas que se podiam imaginar, coisas que despertava curiosidade ate mesmo algum daqueles velhos que apanhados pela deficiência da audição, que segurando seus baralhos , ficavam esboçando cenas ocorridas por entre aquele lugar habitado de juventude insaciável sem noção das horas que percorria por entre as ruas , mas que eram ignoras ao esbarrar nas paredes. Passo disse um dos velhos , Que lastima, disse o outro que acabara de coçar o queixo com pensamento muito longe do baralho, precisamente para um janela situada no terceiro andar de um sobrado perto da Pararia do Seu Cosme.
La se conhece todo mundo pelo nome e não pela profissão. Como esquecer Dona Evelina, famosa por seus três casamentos, sendo que dois são e viúves e o ultimo de abandono. Também tem o velho Onofre, velho de guerras. Dizem que matou muitos hermanos da linha do Equador ate os pampas, outros dizem que se escondia pelos matos e que sobreviveu porque os adversários tinham pena de sua covardia, antes um vivo do que um morto, enfim boatos de guerra.
Como toda rua que se preze, também tinha suas fofoqueiras. Fato mundial arisco, pois ,não há coisa melhor para se fazer coma boca em horas mais oportunas com outras bocas e ouvidos curiosos que falar da vida alheia. E são sempre senhoras , três precisamente, mas na falta duas já servem. Não acredito que ele fez isso, disse a primeira, Pois lhe digo com minha alma, esse faz com qualquer uma, é sujeito que é capaz até de matar,Onde vamos parar, o que se fez com os bons costumes , é o apocalipse, disse a primeira.
Particularidades a parte, apesar de ser um lugar simples sem regalias, muros farpados ou cachorros de grande porte como vigias ,tinham suas vidas. Muitos trabalhavam em outros bairros, mas muitos ficavam a deriva do que se passa for fora daquele lugar, tinha a TV, mas aquilo não significam muito, as noticias e programas pareciam eternas reprises , só mudava os anunciantes.
Estão reformando a casa forrada. Parece que um novo morador esta chegando. veio por esses dias , com um carro do ano, trajes impostados, sotaque de outro estado, falava com muita eloqüência, ficou admirado com atranquilidade e a ausência de cercas elétricas no lugar. O dono avisara que não precisava se preocupar com perigos, sossego era quase um sinônimo do ambiente, por aqui todo nunca se ouve perigos, nunca aconteceu assassinatos , só nos filmes do cinema la no centro. Assim o homem ficou muito contente ao ouvir isso, olhou mais uma vez pelos arredores, comprimento de longe algumas pessoas que sorriram ,de imediato olhou para a casa , apertou a mão do proprietário que era dono e disse que ficaria com ela. Muitos ficaram espantados com a cena, De onde ele veio? Disse uma das senhoras, Disse que vem de outro estado, Disse outra, Parece que fala outra língua , arriscou do dono da pararia , Ouvi dizer que esta por aqui por causa de uma amante, advertiu o chaveiro que assustou a primeira senhora quando apareceu ao vê-lo , é incrível como as pessoas surgem do nada quando o assunto é a via alheia.
Após alguns dias, ouvem-se alguns gritos. Parece coisa seria. São discussões misturadas com lagrimas e berros. Não acredito que você fez isso comigo! Logo você que demonstrava ser tão amável devia desconfiar, por que não ouvi meus amigos! Disse o jovem, num tom inconformado. Meu amor me perdoe, foi sem querer, ele é tão maduro, sabe de tanta coisa, me entende por completo, cada palavra que dizia era como um encanto enfeitiçasse meu peito, quando percebi , já esta nos braços dele, por favor, eu te amo, disse a moça aos prantos que após isso se agarra inutilmente aos braços dele. Uma pinóia! Nunca vou te perdoar! Como fui tolo todo esse tempo! Enquanto eu dava duro no escritório, você se enrolava com outro! Agora entendo suas dores de cabeça e as visitas nas inúmeras amigas de faculdade! depois um longo silencio, mais gritos e choros, ouvem-se um barulho, provavelmente ele batera nela. Começa mais choros, alguns minutos depois , ele sai da casa com uma mochila meio desarrumado , mas antes diz, depois pego o resto , não me procura , nem pense em manda e-mail ou programa de mensagem .
Perto dali, acontece o habitual jogo de sempre. Os senhores estão com a posta das grandes. Em cada jogada comenta-se sobre os acontecimentos de ainda poço mais sem profundidade. Uns se lamentam pelo rapaz,outro se lamenta de não ser o amante, tem ate um que já previa que mais hora essa farra ia acabar.ah como é tão sublime o amor na mocidade e tão safado é a destino , ironia , descuido ou qualquer outra coisa que acaba com esses momentos únicos de alegria.
Então passa o novo morador. Comprimento os senhores. Alguns respondem com um sorrido amarelo, pois não tinham muitos dentes pra demonstram alegria ou falsas simpatias para o estranho.
Ele entra na casa, após guardar as mercadorias, arruma seu material (sim esse cara é artista ) e faz alguns esboços como aquecimento. Não demora a surgir varias mulheres em seu singelo atelier. Uma mais sublime que a outra! Não horas para aparecer, mas vinham com mais freqüência ao anoitece, imaginem as grandes pinturas que saíram por esses momentos noturnos.
Assim percorreu os dias naquela rua. Não espere que la esteja grandes histórias . É um lugar tão simples por assim dizer. O que muda é a forma de se imaginar as coisas. Ainda se pode ver os velhos a jogar e resmungando suas primaveras ou simplesmente dizendo palavras da idade.
Sim, é por lá Rua dos Alagados , perto de qualquer lugar , longe de muitos que já não querem mais viver de fantasia.
Um comentário:
Uauuu... Adorei a sua forma de escrever e descrever, vc é bem detalhista, isso facilita a visualizção e imaginação do leitor... Parabéns! (Brisa Suave OU Barulho Mudo..rs Como preferir)
http://ld.bueno.zip.net/
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